Ponto Chic
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Almanaque
Revolução Constitucionalista 1932

 

 

Anos 30

Tempos de revolução e ditadura:
no Ponto Chic nasce o famoso Bauru

A queda dos paulistas

O Brasil entrou nos Anos 30 em clima de alta tensão. Com quase dois milhões de desempregados e centenas de fábricas fechadas, pois não havia compradores para seus produtos, o espectro da fome assombrava o povo. O preço do café despencava: uma saca do produto, que valia 200 mil-réis, passou a valer 21 mil-réis, representando uma queda de quase 90%, e os estoques acumulados chegavam a 27 milhões de sacas. Resultado: quase toda a produção de café daquele ano seria queimada, o que levaria muitos produtores à falência, criando o pânico entre os fazendeiros. Era a maior crise da história da República Velha.

 

As eleições presidenciais estavam marcadas para o dia 1o de março de 1930 e a campanha eleitoral agitava o país. Apoiada pelo Partido Republicano de São Paulo e de outros estados, a chapa oficial, formada por Júlio Prestes e Vital Soares, passou a ser denominada Concentração Conservadora. Era a derradeira tentativa dos cafeicultores em crise, que ainda controlavam a máquina eleitoral: eles queriam manter os paulistas no poder, o que representaria uma garantia de sobrevivência. Na oposição estavam Getúlio Vargas e João Pessoa, candidatos da Aliança Liberal, alinhando mineiros, gaúchos e paraibanos, contando com o apoio dos oligarcas descontentes e da classe média urbana.

Graças ao esquema eleitoral montado pelo governo e à fraude nas apurações, que era praxe na época, venceu o candidato Júlio Prestes por uma diferença de quase 400 mil votos.

A derrota da Aliança Liberal provocou uma grande revolta entre os perdedores, que continuaram conspirando, entre eles o próprio Getúlio Vargas, o presidente mineiro Antônio Carlos e a maioria dos tenentes revolucionários liderados por Juarez Távora. Mas, seria necessário um fato novo para reativar o movimento.

O pretexto viria em 26 de julho de 1930, quando João Pessoa, o candidato derrotado à vice-presidência, foi morto a tiros por motivos pessoais, em uma confeitaria. A Aliança Liberal se mobilizou, realizando um cortejo fúnebre que percorreu várias cidades, causando grande comoção popular, além de promover manifestações em todo o país, culpando o governo federal e o presidente eleito pelo assassinato. A revolução seria apenas uma questão de tempo.

No dia 3 de outubro de 1930, o movimento revolucionário foi deflagrado simultaneamente no Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba. Porto Alegre foi dominada em 48 horas pelas tropas comandadas por Oswaldo Aranha, Góis Monteiro e João Alberto. Em poucos dias, liderados por Flores da Cunha, Batista Luzardo e Miguel Costa, os gaúchos conquistaram Santa Catarina e o Paraná, e se aproximaram da fronteira com o estado de São Paulo. Na cidade paulista de Itararé, cerca de 8.000 revolucionários encontraram forte resistência das tropas legalistas, com um contingente de 6.200 homens, entre militares e voluntários, comandados pelo coronel Pais de Andrade. Os dois exércitos permaneceram aquartelados até o dia 25, evitando o confronto, na chamada “batalha que não houve”.

No dia 24 de outubro, depois de recusar a renúncia, Washington Luís foi deposto da presidência da República e levado para o Forte de Copacabana (em 21 de novembro ele seguiria para o exílio na Europa, retornando ao Brasil somente em 1945). Uma junta governativa assumiu o poder.

A reação em São Paulo foi imediata e violenta. Já a partir do dia 24, o estado passou a ser administrado por um governo de emergência denominado “Secretariado dos Quarenta Dias”, presidido por José Maria Whitaker e contando com outros paulistas eminentes, entre os quais José Carlos de Macedo Soares, Plínio Barreto e Vicente Rao. Nos dias que se seguiram, o povo saiu às ruas para comemorar a vitória aliancista de maneira conturbada. Acreditando estar fazendo algum tipo de justiça, os paulistanos destruíram e incendiaram todas as casas lotéricas, onde também se apostava no jogo do bicho, que eram exploradas pelos oligarcas paulistas, portanto, ligadas ao governo de Washington Luís. Também depredaram as instalações dos jornais A Gazeta e Correio Paulistano, partidários de Júlio Prestes.

Os revolucionários entraram pacificamente em São Paulo no dia 28, comandados por Miguel Costa. Com a cidade sob controle, no dia seguinte chegava o “comboio da vitória”, trazendo Getúlio Vargas e seus companheiros de armas. O líder da revolução foi recebido com entusiasmo pelo povo que lotava as plataformas da Estação Sorocabana e, mesmo sendo de madrugada, uma verdadeira massa humana seguiu junto à comitiva rumo ao Palácio dos Campos Elíseos, onde outra multidão aguardava os revolucionários. Getúlio permaneceu na capital paulista durante 24 horas e, entre outras providências, nomeou um dos comandantes da revolução, o Cel. João Alberto Lins de Barros, pernambucano, para as funções de Delegado Executivo da Revolução no Estado.

Em 3 de novembro de 1930, Getúlio Dornelles Vargas assumia o poder como Chefe do Governo Provisório da República. Júlio Prestes, o presidente eleito que jamais tomaria posse, e que também havia perdido o governo paulista, procurou abrigo no Consulado da Inglaterra. Ele passaria para a história como o presidente que “ganhou, mas não levou”.

A “política dos governadores”, ou do “café-com-leite” chegava ao fim, como também a República Velha.

 

A cidade em armas

Em São Paulo, o povo aclamava Miguel Costa, um dos líderes da “Revolução Tenentista” de 1924, mas foi mesmo o pernambucano João Alberto quem assumiu o poder, em 26 de novembro de 1930, afastando José Maria Whitaker e seu grupo, que formavam o governo de emergência.

Ocorre que, mesmo possuindo méritos pessoais, o interventor não tinha grandes ligações com São Paulo e pouco entendia dos problemas políticos, econômicos e sociais, o que iria gerar uma forte oposição das elites paulistas, que logo iriam manifestar seu descontentamento com o novo governo.

Os fatores que agravaram a situação foram a intervenção estatal na agricultura, com a criação do Conselho Nacional do Café e a transformação dos sindicatos operários em órgãos ligados ao estado. No mesmo ano, o Partido Democrático de São Paulo se articulava contra os princípios da revolução, exigindo de Getúlio a Constituição que prometera. Fundado em 1926 por representantes da elite pa

ulistana, em sua maioria dissidentes do Partido Republicano Paulista, o Partido Democrático era uma reação contra a República Velha e sua política viciada. Alinhando nomes como Antônio Prado, Prudente de Morais Neto, Francisco Morato e o jornalista Júlio de Mesquita Filho, que manifestava sua opinião através do jornal da família, O Estado de S. Paulo, a oposição ao governo Vargas seria o caminho natural do novo partido. As reuniões eram realizadas no palacete Santa Helena, na Praça da Sé, onde funcionava o escritório do conselheiro Antônio Prado. Um local que se tornaria o foco principal da revolução civil.

Em 1932, o Partido Republicano e o Partido Democrático se uniram formando a Frente Única, em oposição à “Ditadura Vargas”. Surgiram conflitos populares nas ruas da cidade e, no dia 23 de maio, quatro jovens perderam a vida em confrontos com as forças governamentais na Praça da República: Euclydes Miragaia; Mário Martins de Almeida; Dráusio Marcondes de Souza e Antônio de Camargo Andrade. Com as iniciais de seus nomes, Miragaia, Martins, Dráusio e Camargo, foi formada a sigla MMDC, que passaria a identificar a Revolução Constitucionalista.

Preocupado com os acontecimentos, Vargas marcou para o ano seguinte as eleições para a Constituinte, mas a medida não surtiu efeito. No dia 9 de julho de 1932 São Paulo entrou em guerra, com a mobilização das tropas da Força Pública e de um enorme exército de voluntários comandado por Bertoldo Klinger. O alistamento de civis ficava a cargo dos postos do MMDC – cuja sigla os revoltosos traduziam como “Mata Mineiro Degola Carioca” –, que tinha sua sede principal na Faculdade de Direito, no Largo de São Francisco. Seus integrantes também cuidavam da propaganda cívica, espalhando cartazes com o slogan “VOCÊ TEM UM DEVER A CUMPRIR”. Por toda a cidade, os revolucionários cantavam a “Marcha da Liga de Defesa Paulista”, com letra de Guilherme de Almeida:

Marcha soldado paulista
Marcha teu passo na história!
Deixa na terra uma pista;
Deixa um rastilho de glória.

No dia 11 de julho de 1932, os jornais da cidade publicavam a mensagem do general Isidoro Dias Lopes, comandante geral da Revolução:

 

AO POVO PAULISTA
Neste momento assumimos as supremas responsabilidades do commando das
forças revolucionarias empenhadas na lucta pela immediata constitucionalização do paiz. Para que nos seja dado desempenhar, com efficiencia, a delicada missão de que nos investiu o illustre governo paulista, lançamos um vehemente appello ao povo de S. Paulo, para que nos secunde na acção primacial de manter a mais perfeita ordem e disciplina em todo o estado, abstendo-se e impedindo a pratica de qualquer acto attentatorio dos direitos dos cidadãos, seja qual fôr o credo político que professem.

No decurso dos acontecimentos que se seguirão, não encontrará a população melhor maneira de collaborar para a grande causa que nos congrega, do que dando, na delicada hora que o paiz atravessa, mais um exemplo de ordem, serenidade e disciplina, caracteristicos fundamentaes da nobre gente de S. Paulo.

 

(Transcrito do jornal Diário Popular do dia 11 de julho de 1932).

A Revolução Constitucionalista de 32 durou quase três meses e, depois de muita luta, terminou no dia 29 de setembro com a rendição de Bertoldo Klinger. 

 

 

 

Trecho do livro "Ponto Chic, Um Bar na História de São Paulo", de Ângelo Iacocca pela Editora Senac

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Por sua vez, Casimiro Pinto Neto, inventor do sanduíche Bauru, participou da Revolução de 32 no Batalhão '14 de Julho', formado quase em sua totalidade por estudantes constitucionalistas.

 

OBELISCO DE SÃO PAULO

Símbolo da Revolução Constitucionalista de 1932, o ibelisco é o maior monumento da cidade e tem 72 metros de altura.

O obelisco tem inscrições acompanhadas de ícones em suas quatro faces. Iniciando pela face norte, seguindo pela face oeste, sul, e finalmente leste. O poema escrito é texto de Guilherme de Almeida, feito como homenagem aos revolucionários de 1932. Abaixo segue o texto:

"Aos épicos de julho de 32, que,
fiéis cumpridores da sagrada promessa
feita a seus maiores - os que
moveram as terras e as gentes por
sua força e fé - na lei puseram sua
força e em São Paulo sua Fé."

 

 

À base do monumento, junto à entrada da capela e da cripta, voltadas ao Parque do Ibirapuera, há outrat inscrição de  Guilherme de Almeida 

"Viveram pouco para morrer bem
morreram jovens para viver sempre."

SIMBOLOGIA

A soma dos algarismos da obra é igual a nove, e são nove os degraus na entrada. A simbologia do monumento também está presente no desenho do gramado ao redor do Obelisco, que possui área de 1932 metros quadrados e forma um coração onde está enfincada a espada (símbolo do obelisco) que sagrou a vitória política, apesar da derrota militar dos paulistas. Afinal, ao ver seu governo em risco, o presidente Getúlio Vargas dá início ao processo de reconstitucionalização do país, levando à promulgação em 1934 de uma nova constituição nacional. Outras dados sobre a simbologia: tem 81 metros de altura, cuja raiz quadrada é nove. A base maior do trapézio, no chão, para quem olha o monumento de frente, tem 9 metros, a base menor, em cima, tem 7 metros. A largura da cripta, embaixo, tem 32 metros. Assim, quem olha de frente o perfil da planta observa os números 32 - 9 - 7, que lembram o ano, o dia e o mês da Revolução de Nove de julho de 1932.

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